A criança vai dormir. Já brincou muito, está feliz. Sabe que já é tarde, ainda por cima está cansada, aceita ir para a cama. Lava os dentes, põe o pijama. A mãe, muito carinhosa, conta uma história. Está tudo certo naquele mundo infantil.
Quando a história está quase a acabar, a criança sente um peso no peito. Um peso que vai aumentando. A criança não quer que acabe. Pede mais uma história, mas é tarde, está mesmo na hora de dormir. A criança sente o peso no peito a invadir o corpo todo, já não controla. Sente medo, muito medo. Sabe que vem aí o pior.
A mãe vai ter de sair. E vai apagar a luz do quarto. E a criança vai ficar ali, sozinha no escuro, com tudo o que sente. E não é pouco.
Juntamente com o medo vem a taquicardia. O coração começa a bater mais rápido e a criança sente uma coisa ainda mais aterrorizadora. O medo do medo. Medo do peso do peito, da taquicardia. Medo do seu próprio corpo que começa agora a tremer. A criança começa a chorar. Diz para a mãe não se ir embora, que não quer ficar sozinho no escuro.
A mãe começa a ficar chateada. A criança já brincou tanto, ainda quer mais? Não tem limites nenhuns! Para a próxima não vai contar nenhuma história e a criança vai vir deitar-se mais cedo. Castigo para quem é ingrato. A criança continua a chorar, não quer ficar sozinha no escuro. A mãe acha um absurdo não poder apagar a luz, mas aceita deixar uma pequena luz acesa no quarto, mas a criança não para de chorar.
Agora que vai ter luz, não quer ficar sozinha. A mãe grita, está irritadíssima! Tínhamos combinado que isto não voltaria acontecer! A mãe sai do quarto e deixa a criança sozinha a chorar, num desencontro desolador.
Há várias possibilidades:
67%.
Segundo um estudo levado a cabo na Universidade de Harvard, essa é a percentagem de pessoas que tem medo que aconteçam coisas:
A - que nunca aconteceram nem com elas nem com conhecidos
B - que têm muito pouca possibilidade de acontecer nas suas vidas
Por isso de onde vem esse medo?
De onde vem essa ideia de que pode acontecer uma coisa que é tão longínqua?
Mas tem mais:
E quando uma criança morre de medo de alguma coisa, você tenta descobrir onde ela tomou conhecimento dessa coisa e não encontra absolutamente nada? Não encontra nenhum indício de que ela conheça ou sequer tenha entrado em contacto com o assunto de onde vem esse medo?
É que um adulto, mesmo não tendo vivenciado esse trauma, pode ter ouvido histórias, lido, assistido a filmes que abordam a questão. Há sempre a possibilidade de ter entrado em contacto com essa informação e - mesmo assim é muito estranho - ter desenvolvido a fobia.
Mas uma criança...
Uma amiga minha tem um filho que, com nove meses, cada vez que ela abria um iogurte para lhe dar, ele chorava, esperneava, fazia uma birra descomunal. Ela não podia aproximar o iogurte dele. Quanto mais ela aproximava, mais ele chorava.
Mais tarde, se era ele que abria o iogurte, tudo bem. Mas se fosse ela... ui!
E durante toda a vida foi assim. Até hoje, é ele que se serve, não gosta que peçam um golo da garrafa que está a beber, continua com pavor da troca de germes.
Foram necessários muitos anos para ela entender o que realmente tinha acontecido. No início ela achava que era apenas uma criança mal educada. Passou muito tempo a tentar desvalorizar. Tentou por tudo mostrar-lhe como era ridícula a sua postura de achar que alguma coisa ia acontecer só porque ele comeu um iogurte aberto por outra pessoa.
Uma vez, estavam a jantar. Ela espirrou. Claro que colocou a mão à frente, ela é uma pessoa educada. O que se passou depois é indescritível. Ele começou a chorar dizendo que já não ia comer porque o espirro tinha enchido o seu prato de germes. Ela mais uma vez desvalorizou, disse que achava ridículo o que ele estava a fazer, que tinha estragado o jantar dos dois. Ele se trancou no quarto e disse que já não queria comer.
Depois de muito tempo eu e ela começámos a entender que era mais do que uma birra.
Enquanto ele era criança era fácil justificar como má criação todas aquelas manias alimentares. Mas conforme ele foi crescendo já não dava para olhar com leviandade.
O menino sofria mesmo. E decididamente não coloca dentro da boca alguma coisa que pudesse ser tocado por outra pessoa. Chegou uma altura que eu tive que aceitar que alguma coisa de muito mais complexa estava a acontecer.
Um dia estava a meditar e a receber mensagens de Jesus para um dos meus livros, e resolvi perguntar: porque é que uma criança tão pequena, nove meses, faz uma birra? Porque é que não aceita comer nada que teve contato com alguém?
Jesus - Porque foi envenenado numa vida passada.
Eu - Como assim?
Jesus - Sim, morreu disso em outra vida e traz essa memória muito presente. Pode não se lembrar da vida passada nem das circunstâncias em que isso aconteceu, mas a emoção é muito forte. Assim, cada vez que está em contato com alguma coisa que lhe lembre a vida anterior e o que aconteceu, sente a mesma emoção lá de trás, apesar de não conseguir explicá-la.
Uma criança que tem medo do escuro é porque foi atacada no escuro numa vida passada. Uma pessoa que tem medo de cobras é porque teve, lá atrás, uma experiência traumática com cobras.
Lembras-te do teu pavor das alturas? Lembras-te da vida em que foste empurrada de um precipício? Vem daí a questão das alturas.
Eu - E como limpar?
Jesus - Passar pelas coisas é a solução. E a cada vez que passar pelas coisas, deixar doer, parar de fugir dessa dor. Deixar doer ao limite, e quando estiver na máxima expressão, imaginar um aspirador de Luz a levar toda essa dor. Porque a dor que vem é diferente de uma dor normal. Uma pessoa que tem medo de alturas, tem apenas medo de alturas. Mas tu tens um medo de morte de alturas. E a própria expressão define: de morte. Sempre que uma pessoa tem um medo “de morte” de alguma coisa é porque já morreu dessa coisa.
Eu - Eu lembro-me que o senhor um dia fez-me aproximar-me de um precipício. Quase morri de medo.
Jesus - Já tinhas morrido de medo, essa é que é a verdade. Em outra vida. Conforme ias te aproximando do precipício, o medo ia aumentando. Taquicardia, suores frios, enfim, tudo o que sentiste naquela vida em que os Romanos estavam quase a empurrar-te.
Eu - Nem me lembre.
Jesus - Mas é com a lembrança que se cura. Se pensares, acabas por atrair situações em que ativas o medo - porque ativas a memória - para por fim conseguires limpar. Nunca conseguimos limpar memórias que não estão ativas. Mas as pessoas quando têm esses medos, e aqui podíamos incluir os ataques de pânico, narcotizam-nos. Tomam medicação para suprimir a memória emocional do evento da vida passada. Pensam que medicação é a única coisa que pode limpar essa emoção tão pesada e que às vezes não deixa a vida andar.
Eu - Então o que aquela mãe deve fazer para o miúdo passar a comer sem esse condicionalismo?
Jesus - A primeira coisa que ela deve fazer era parar de se zangar com ele. Considerar que é uma condição espiritual, e não uma birra. Depois, ela própria deve colocar - mentalmente, claro - um aspirador no coração da criança. Esse aspirador simbólico vai levar a densidade que está a ser ativada por esta circunstância. Cada vez que a criança negar comer, independentemente de estar a chorar ou com raiva, ela deve colocar o aspirador para limpar.
E ir assim, limpando sempre, até que a fobia vá se desfazendo.
Eu - E é possível curar completamente?
Jesus - Sim, é possível. Mas tem que tomar atenção ao seguinte: a cura não vem de a criança passar a comer. Essa seria um sintoma da cura. A cura vem da criança sofrer menos quando entra em contato com essa situação. Essa é que tem que ser a maior preocupação. A cura interior, não exterior. Pode sempre acontecer de a criança nunca chegar a comer um iogurte aberto por outra pessoa. Mas a dor do envenenamento, de ter sido traído e envenenado, essa vai estar curada, e isso é que importa.
Ah, e só para não esquecer: temos que voltar a fazer o exercício de te aproximares de um precipício, porque ainda não está completamente limpo.
Eu - :(